O Instituto Bia Dote, organização civil, não governamental e sem fins lucrativos, que trabalha com prevenção do suicídio e valorização da vida desde 2013, sente-se no dever de vir a público manifestar uma nota de repúdio aos projetos políticos pautados no ódio, na violência, na intolerância e na ameaça aos direitos básicos do ser humano, incluindo o direito à VIDA.

A prevenção do suicídio é uma questão de saúde pública, na qual devem estar envolvidos os esforços de diversas esferas do poder público e da sociedade civil. A atuação necessária não diz respeito somente à área de saúde, mas às áreas de educação e cultura, garantia de direitos básicos, e afirmação dos direitos humanos. O desmantelamento dos direitos básicos e a ameaça aos direitos humanos, o que atinge sobretudo aqueles para quem a própria vida cotidiana já é um desafio, não fazem parte de uma política de promoção da vida.

A prevenção do suicídio e a valorização da vida passam, também, pelo fortalecimento dos direitos das diversidades. Precisamos, assim, de políticas em prol da igualdade de gênero, da igualdade racial, de promoção dos direitos das juventudes, de promoção dos direitos das populações LGBTI+, de promoção dos direitos das pessoas com deficiência, de proteção dos idosos, de proteção da criança e do adolescente. A intolerância e o preconceito, e as outras violências que disso decorrem, representam grave fator de risco ao suicídio. Não podemos aceitar que o ódio e a intolerância às pessoas, por simplesmente serem o que são, dissemine-se impunemente, causando o sofrimento psicológico dessas pessoas e ameaçando sua possibilidade de existência.

Acreditamos, também, que o incentivo a uma cultura armamentista, enraizada na violência e no incentivo ao extermínio de determinadas populações, é ameaça à luta pela prevenção do suicídio e valorização da vida. Como o Instituto Bia Dote vem alertando, o acesso a armas de fogo tanto aumentam os homicídios quanto os suicídios.

Acreditamos que não podemos lutar pela prevenção do suicídio e pela promoção da vida, e ficarmos omissos diante da barbárie que se instaura no nosso país. Isso seria trair todos aqueles – parceiros, profissionais, pacientes e clientes – que confiaram no Instituto Bia Dote. E todos aqueles que, nas nossas clínicas e em outras instituições, já mostram como o que vem acontecendo na sociedade brasileira, sobretudo o aumento do ódio, que tomou mais corpo após o segundo turno das eleições, tem afetado sua saúde mental. Os efeitos nefastos dessa cultura do ódio já se fazem sentir.

Assim, nos posicionamos contra todo projeto político pautado no autoritarismo, na ignorância, na intimidação, na truculência e no desrespeito, e suas manifestações individuais. Para fazer frente a toda essa ameaça à vida, acreditamos que não basta dizer “não”, mas que é preciso reafirmar o compromisso com a sobrevivência da democracia e com os projetos políticos em prol da vida.

A prevenção do suicídio e a valorização da vida ainda têm um longo caminho a percorrer e muitas barreiras a ultrapassar no nosso país.
Mas temos, desde já, a certeza de que cada vida importa. E que todo retrocesso, tudo o que fere a existência de alguém, tudo o que prega a eliminação física e subjetiva do outro, tudo o que banaliza o mal, deve ser combatido.
Se lutamos pela VIDA, nenhuma existência pode ser ameaçada. Precisamos defender, para todos, o direito de ser o que se é. E isso só é possível em um cenário democrático, que nem o corpo nem a palavra precisem curvar-se ao ódio e ao medo.

*O Instituto Bia Dote é uma instituição apartidária da sociedade civil, mantida com recursos privados. Não temos nenhuma vinculação com nenhum governo e nunca recebemos nenhum tipo de auxílio de nenhum governo.